quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Photografia em tom sépia

Por Pergentino Holanda
A São Luís memorável (e amável) sobrevive apenas naquelas photos já amarelecidas, no tom daqueles antigos filmes do Tarzan.
Na praça Pedro II, com vistas para a Baía de São Marcos e o pé direito na Praça Benedito Leite, o Hotel Central era uma espécie de Copacabana Palace de São Luís, nos anos 1950.
Paris tem o Hotel Crillon, Londres o Savoy, Nova York o Waldorf Astoria. Toda cidade que se preze tem um hotel que se confunde com seus marcos históricos – uma espécie de “Land Mark” que lhe realça a identidade e ajuda a contar a sua evolução urbana.
Admitamos que o Hotel Central não era nenhum Plaza de Nova York, nenhum Claridge’s de Londres. Mas era o Hotel Central, de São Luís, apesar do estilo “miscelânico”, do jeito um tanto anárquico, abrigando uma agência da Varig no andar térreo.
O Hotel Central parecia um estabelecimento “livre” de Casablanca, no Marrocos ocupado, um imóvel ideal para receber o “Café Amérikaine”, em cujo térreo poderia irromper, a qualquer momento, a Marseilleise, puxada por Viktor Lazlo, o herói da Resistência.
No meu imaginário romântico, os encontros furtivos de Ilse (Ingrid Bergman) com Rick (Humphrey Bogart) estariam acontecendo num apartamento do quarto andar, voltado para o Palácio dos Leões e o sol poente, paisagem em cuja moldura sangraria um daqueles ocasos raros que fizeram a fama da Ilha.
O Hotel Central, o Mercado da Praia Grande ao fundo. Desse cenário, só o último figurino está de pé. O velho hotel me parece um prédio abandonado.
O abandono do velho prédio está lá, a céu aberto, como um furúnculo de vergonha. Ninguém sabe por que o poder público não decide apoiar o velho Hotel Central.
A São Luís humana, amiga do mar e de si mesma, sobrevive apenas nas velhas fotografias em tom sépia.

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